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Foto do escritorRodrigo Guerón

" 'A economia é a pátria!' ". Terceiro capítulo do meu novo livro "A Vingança dos Capatazes"

Abaixo um pequeno trecho para degustação do capítulo " 'A economia é a pátria!' ", o terceiro do meu novo livro que se intitula, "A Vingança dos Capatazes. O bolsonarismo como um tipo de fascismo", já no forno da Nau Editora e que pretendo lançar em dezembro.


Rodrigo Guéron


"O capital financeiro, nesse sentido, é mais do que um elemento operador que permite o funcionamento do capitalismo, antes, ele é o grande instrumento de poder do capital que está radicalmente interiorizado nesta figura do “dever” do indivíduo liberal. O homem empreendedor é um homem em permanente divida consigo mesmo, mas esta dívida consigo mesmo é o que determina toda a sua vida em função da produção capitalista, ou seja, toda a sua vida em função do processo incessante de “ganhar” dinheiro que alimenta aquele que é o processo do capital por excelência: dinheiro que produz dinheiro. É nesse sentido que podemos designar a dívida que marca o funcionamento da sociedade capitalista como “imanente”. Ela é imanente à própria produção capitalista, ou seja, é exatamente porque o indivíduo empreendedor é, na verdade, um endividado, que ele não pode jamais se descolar do processo incessante e cada vez mais intenso de produção capitalista: ele produz porque é um endividado e ele se endivida na medida mesmo que precisa produzir. Dívida e produção capitalista operam de maneira imanente, o que é distinto da antiga dívida transcendente com o Estado Despótico. Este Estado, de uma forma geral, se atirava sobre o processo produtivo desde fora, como, por exemplo, em uma operação de cobrança de impostos feita muitas vezes na forma de uma operação policial.

A dívida do indivíduo, imanente a sua própria existência e ao modo mesmo como ele se constitui como indivíduo, é uma dívida com a sua saúde econômica e a sua prosperidade. Gerindo bem a si mesmo, na lógica neoliberal, ela vai contribuir para a prosperidade da economia – do “mercado” – e, consequentemente, do Estado, inclusive porque o bom gestor de si mesmo, nesta lógica, se torna tanto menos quanto possível uma despesa para o Estado. Nesse sentido, a sua dívida é também para com o Estado: é dever do indivíduo zelar pela saúde econômica, a integridade e a prosperidade deste. O que significa dizer que, de certa forma, a dívida do Estado também é a sua dívida. O Estado está presente tanto como elemento interiorizado neste indivíduo juiz de si mesmo a partir de um critério de racionalidade – responsável e endividado consigo mesmo --, quanto à medida que este critério de racionalidade determina o dever dele para com o Estado. Há uma espécie de dever “patriótico” que já se insinua na constituição do liberalismo, e que no neoliberalismo se introjeta mais efetivamente como uma subjetividade, qual seja, o dever racional do indivíduo de zelar pela racionalidade do Estado: o critério de “verdade” do mercado que garantiria em um mesmo movimento a saúde econômica do Estado e o bom funcionamento da economia. O dever para com o Estado se confunde com um dever para com a “economia”: de fato o “mercado”, o “capital”: “A economia é a pátria!”.

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