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Foto do escritorRodrigo Guerón

Sobre a omissão e o silêncio (censura?) da mídia empresarial diante dos atos "Fora Bolsonaro"



Rodrigo Guéron


O jornalista Maurício Stycer fez um levantamento do modo como os telejornais de ontem, dia 29 de maio de 2021, diminuíram muito (JN/Globo) ou simplesmente ignoraram (SBT e Record) as grandes manifestações contra Bolsonaro que aconteceram país a fora. Embora isso não seja exatamente uma novidade, creio que seria muito importante para a defesa da democracia que as principais lideranças e direções dos partidos e dos movimentos sociais se posicionassem claramente diante disso; além de tentar algum tipo de mobilização nas redes para pressionar as redações.

Seria preciso deixar claro, em primeiro lugar, a indignação, ainda que inicialmente de forma mais conciliatória, tentando reverter essa postura até hoje à noite, garantindo grandes reportagens, com toda a força das imagens, nos programas de domingo. A Globo, por exemplo, tem uma chance de mudar essa vergonha ainda esta noite no "Fantástico".

Em segundo lugar, vejo aqui uma oportunidade para demonstrar a clara diferença entre uma crítica democrática a certas posturas das empresas de comunicação e as críticas feitas pelo bolsonarismo. Fica bastante evidente que a atitude destas empresas diante das manifestações de ontem expressa uma profunda falta de compromisso com a democracia. Na prática, ao tentar esconder a força dos atos, elas operaram como um tipo de censura; o que, aliás, é bastante recorrente. Por isso, criticá-las nesse caso é defender a democracia. Os bolsonaristas, ao contrário, as atacam porque querem acabar com toda crítica e toda circulação de fatos que desconstroem as suas "verdades" de fábulas tolas, que não são infantis porque são fábulas de morte.

Além disso, fica bem claro que, apesar de algumas matérias fortemente críticas ao governo Bolsonaro que têm sido feitas por alguns telejornais, especialmente o JN da Globo, que a violência do bolsonarismo, o gosto pela ditadura, as apologias aos crimes de Estado, foi sim de forma direta ou indireta alimentada pelas corporações de comunicação, como dizem alguns. Se algumas destas empresas parecem hoje se opor a Bolsonaro, é porque perderam o controle sobre os afetos de medo e ódio, este estado de corpo e mente microfascista, que durante décadas ajudaram a disseminar socialmente. Na verdade, de uma forma geral, perderam parcialmente o controle sobre o processo político e social.

Vendo os telejornais, e agora também as capas dos jornais de domingo -- com exceção da Folha -- fica difícil não considerar que os comandos editorias, na prática a direção e os proprietários das empresas, avaliaram como “perigoso” mostrar os atos de ontem com a força que tiveram. E que perigo seria esse? Vejamos, por exemplo, os já famosos ataques que Bolsonaro faz à Globo em seu "cercadinho". Aparentemente eles deixam Bonner e seus colegas muito "indignados", mas um observador mais atento percebe que eles mal conseguem esconder a satisfação pelo modo como o ex-capitão acaba sendo o presidente perfeito para construir um clichê falacioso tão conveniente para a empresa carioca: o de liberais comprometidos com a democracia e o bom jornalismo. A historinha fácil que se conta sobre a relação de Lula e o lulismo com o bolsonarismo, qual seja, a que os dois seriam semelhantes e se retroalimentam num jogo de sinais invertidos, talvez seja um pouco mais adequada – mais ainda assim uma historinha fácil -- para a relação de grande parte das empresas de comunicação, e de suas estrelas jornalísticas, com Bolsonaro.

Foi a posição aparente de principais antagonistas de Bolsonaro que, me parece, a maioria dos comandos editorias avaliou que estava ameaçada pelos atos de ontem, além de um possível desdobramento destes numa onda de manifestações “descontroladas”. Ao tentar manter o protagonismo nas críticas a Bolsonaro, as grandes corporações de comunicação, como parte importante do centro do poder econômico e político do Brasil, tentam na verdade manter "Bolsonaro sob controle". Seguindo esse raciocínio, seria preciso que o presidente fosse mais ou menos contido em sua violência, enquadrado e denunciado na sua forma de lidar com a pandemia, corrigido na sua política externa e ambiental, mas permanecesse suficientemente pressionado para fazer avançar a violência do programa neoliberal ortodoxo que ele e Paulo Guedes jogam sobre a população.

Um texto bem escrito, uma colocação política bem feita e uma mobilização nas redes, inclusive com ingerências e negociações juntos às direções destas empresas, seria uma ação política importante; inclusive porque, creio eu, as coisas dentro das empresas de comunicação não são tão monolíticas quanto a minha análise acima pode fazer parecer. Tenho certeza que em muitas redações de jornais e telejornais esta omissão antidemocrática sobre os atos de ontem contra Bolsonaro causou um forte mal estar.

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