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Foto do escritorRodrigo Guerón

Victor Tufani escreve sobre a chacina no Jacarezinho.

Texto de Victor Tufani que trago para o debate sobre o bolsonarismo como um tipo de fascismo, ao qual acrescento, no final, um pequeno comentário que fiz na rede:

"A adesão ao bolsonarismo entre policiais civis e militares passa dos 80%, já foram feitas pesquisas a respeito. E essa ação no Jacaré, na forma e no tempo em que se deu, foi uma retaliação clara, executada por esses asseclas, à CPI da Covid, que faz Bolsonaro (e com ele, grande parte dos generais de pijama instalados na administração pública) desaparecer pouco a pouco como opção viável para o executivo federal.

Quando o assunto é Brasil, devemos ser pessimistas e jamais subestimar o fascismo. Ele sempre encontrará terreno fértil num lugar onde a miséria - material, moral, cultural - é ubíqua, e se Bolsonaro continua presidente, é porque as classes dominantes permitem e o celebram. Mas está cada vez mais evidente que o presidente, com ou sem apoio popular e dos poderosos, chega ao fim desta semana completamente louco, atacando tudo e todos, porque a CPI muito o incomoda, e (um pouco de esperança) deve deixá-lo completamente nu.

À guisa de combater o tráfico (varejista! Eles não mexem com quem recebe cocaína em helicóptero) e aquilo que o tráfico sempre fez - empregar jovens favelados que não conseguem emprego de quase nenhuma outra forma - o Estado no Rio simplesmente executou duas dúzias de pessoas miseráveis, que nunca na vida tiveram direito a nenhum dos seus serviços. Traumatizaram toda uma comunidade que já é muito pobre e precária, onde a educação, moradia, saúde e comida não chegam e os conflitos são muitos, mas que é habitada em sua grande maioria por trabalhadores que sustentam a cidade nas costas fazendo o serviço recusado pela classe média. (E eu não romantizo a pobreza e não distribuo aureola na cabeça de ninguém. Sei perfeitamente bem que esses pobres vitimados, se os papeis se invertessem, provavelmente fariam coisa igual ou pior: Eles TAMBÉM votaram em peso no Bolsonaro)

Ainda por cima desafiaram (inclusive na figura do delegado) a ordem do maior tribunal do país, outro recado contra a democracia, a divisão dos poderes e o futuro do Brasil. A morte do policial será calculada como colateral e só quem vai se importar com isso é o "pessoal dos Direitos Humanos", tão vilipendiado por uma população em processo de psicopatia coletiva. Infelizmente não creio que ninguém vá ser responsabilizado, e acredito que terá sido apenas a primeira demonstração de "guerra contra os civis" empregada por uma extrema-direita que adquiriu muito poder e que agora se vê acuada."

Comentário: Excelente texto Victor Tufani! E acrescento, vendo a fala do vice-presidente-general Mourão hoje ("Era tudo bandido..."), que há aqui um elemento que eu chamo de "glorificação da morte". Eu acho que eles buscam apoio social para o ato, vão mesmo se orgulhar dele: ele é também um elemento de busca de recuperação da popularidade e de campanha eleitoral. A glorificação da morte é, na minha opinião, uma fase da necropolítica, e é um elemento chave da mobilização libidinal do fascismo: economia política da morte.

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